sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Modernidades Linguísticas

Nota importante:
O texto a seguir referido não é da minha nem da autoria dos restantes Patos (vulgo Gang). No caso de ser o Autor de tão sábias palavras, é favor identificar-se para que lhe possamos dar o devido crédito.

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MODERNIDADES LINGUÍSTICAS…

" Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar "afro-americanos" aos pretos, com vista a acabar com as raças por via gramatical - isto tem sido um fartote pegado!

As criadas dos anos 70 passaram a "empregadas" e preparam-se agora para receber menção de "auxiliares de apoio doméstico".

De igual modo, extinguiram-se nas escolas os "contínuos"; passaram todos a "auxiliares da acção educativa".

Os vendedores de medicamentos, inchados de prosápia, tratam-se de "delegados de informação médica".

E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em "técnicos de vendas".

Os drogados transformaram-se em "toxicodependentes" (como se os consumos de cerveja e de cocaína se equivalessem!);

O aborto eufemizou-se em "interrupção voluntária da gravidez";

Os gangues são "grupos de jovens";

Os operários fizeram-se de repente "colaboradores"; e as fábricas, essas, vistas de dentro são "unidades produtivas" e vistas da estranja são "centros de decisão nacionais".

O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à "iliteracia" galopante.

Desapareceram outrossim dos comboios as classes 1.ª e 2.ª, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes "Conforto" e "Turística".

A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa : «Sou mãe solteira...»;

Agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...»

Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas» ; diz-se modernamente que têm um "comportamento disfuncional hiperactivo".

Do mesmo modo, e para felicidade dos "encarregados de educação", os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos "cábulas"; tais estudantes serão, quando muito, "crianças de desenvolvimento instável".

Ainda há cegos , infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado "invisual". (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o "politicamente correcto" marimba-se para as regras gramaticais...)

Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em "implementações", "posturas pró-activas", "políticas fracturantes" e outros barbarismos da linguagem.

E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico."